sexta-feira, 1 de maio de 2015

Confesso que senti

Do asfalto era possível ver arder a pele dos que passavam e ainda assim, sentia que faltava algo
Apesar desse vício de observar constamente as tragédias humanas, jamais conseguirá capturar a vida e condensá-la em seus versos
O sentimento era de impotência, irrelevância
Seria necessário amarrar todos os sonhos e tecer assim um retrato mais preciso do homem

O mundo era grande
O asfalto era quente


Era conhecido pela morbidez, mas porque no fundo não sabia de outra coisa a não ser isso
Até os fenômenos belos e os olhares brilhantes, cheios de esperança, o faziam chorar, o confundiam
Amava a vida intensamente e por isso, tudo o apunhalava no peito
o paralisava, rompia sua espinha

A fumaça dos carros subia em efervescência e contaminava o ar
Embaçava sua mente

Uma vez lhe disseram não temos tempo a perder
Mas nunca entendeu porque tinha de correr
Afinal, os versos permaneciam frios
Mortos no quente do asfalto
Pálidos esperando o transbordar de algum amor

Os carros foram
As pessoas já tinham ido

A rua estava vazia
A cidade também parecia estar
E alguém parecia gritar pra inundar aquelas lacunas


XXX

O vazio também ocupa espaço