sábado, 2 de junho de 2012

Depoimentos de infelizes em cruzamentos

Chovia muito.
E naquela noite parecia chover ainda mais, mais do que nunca. Por que disso tudo? A tristeza é sempre mais fácil, porque nos rende. A noite era fria, mas soava quente para ela, aliás ultimamente tudo andava extremamente quente ao seu redor. Foi ontem que ela riu e reclamou do tempo. Hoje, nem mais com o tempo se preocupa, quanto mais se preocupar comigo. Estou velho e simplesmente não posso tirar a vida toda que tem pela frente, seria um erro irreversível. Como fui capaz de ser tão cego e não enxergar que ela era tudo, e eu agora sou nada. Estou contando uma versão amarga desse história de amor fictícia e impossível. Aposto que se fosse ela falando, seria bem mais leve, porém mais dolorosa, talvez com menos ar de arrependimento. Agora, ela se encontra por aí e eu aqui, desfrutando da minha recente lucidez ao vê-la caminhando sobre os próprios pés. Terei que me conformar com isso pelo resto da minha vida. Fui o homem certo e errado. Pequei ao não perceber que aquele amor era puro e sem precedentes, era simplesmente um Amor que se sente, não se calcula. Hoje, mais do que nunca, tenho que mapear o Amor pra vê-lo dando certo, e ela parece levar tudo na gaita, sem ligar para a solidão.
Chovia muito.
Deveria ser uma noite agradável, já que havia chovido o dia inteiro. Gosto de chuva e como ela limpa a alma. Parece que você se foi junto com a chuva, assim que virou naquele esquina barulhenta. Não havia paz entre mim e você, apenas distância, ficção. Não posso dizer mais nada sobre você, não tenho nada a dizer. Sou assim e você não aguenta ver que eu mudei, para melhor. A necessidade visceral que eu tinha de provar isso para você finalmente deu certo. Quero vê-lo chorar, e sentir a dor que senti nas noites em que você se encontrava na rua e eu, no meu mundo imaginário e perfeitamente defeituoso. Os defeitos, bem, são por sua conta. Cruelmente negou o meu Amor e me fez prometer ser sua pela eternidade. Como um animal,você volta rastejando pedindo perdão, que errou e não sabia o que fazer. Mas é claro não sabia. Aliás, disso você nunca entendeu. Dor. Você me obrigou a viver por você e sob os seus questionamentos banais. Sou assim por você. Atraindo sempre as pessoas erradas, distanciando as certas, e escondendo a sua existência dentro de mim.
Chovia muito.
A esquina parecia ser a de sempre, estagnada no tempo, justamente para preservar a memória do Velho e da Menina. Ele a vê. Ela o vê. Tentam fugir e correr do que viram, mas alguma coisa inexplicável os juntam, olhos nos olhos.
"- Chove muito, não?
- Mas nenhuma gota de você."

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