normalmente eu fujo
já de longe vejo o asfalto
quente molhado
normalmente me recolho
nunca me entrego
hoje eu remei contra
minha própria maré
em direção à profundeza
do meu ser
vivo
normalmente a água gelada
em minha pele úmida elástica
me enoja
me dói
me dá calafrio
porque me lembra
do constraste
que é viver
mas hoje me deixei lavar
não me cobri do guarda chuva
do conforto
hoje senti cada gota
gélida
cada centímetro
cada espaço
seco molhado
pela água que me é
sempre estranha
porque nunca pedi
pra ela cair
mas hoje ela caiu
agora os pés dedos
mãos molhados
agora cabelos como espelhos d’água
presos no topo da cabeça
de um jeito teimoso
me vejo nua e mais crua
do que debaixo do guarda chuva
normalmente das poças desvio
ignoro as reclamações incessantes
os guarda chuvas pontudos
mas hoje fui sem pressa
como nunca antes
me molhei
lavei partes áridas
pra deixar nascer minhas flores
que há muito se encontram
adormecidas em sementes
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Pobre do Poeta...