debaixo da terra
as linhas metálicas
paralelas
equidistantes
separam o teu eu mais profundo
da superfície acelerada da cidade
essas jornadas pendulares diárias
te conduzem
do norte da tua angústia
ao sul do teu desejo
debaixo da terra
tu vislumbras solitário
a paz de sentir
de ser
quem se pode ser
tensiona o fio que une
dois ou mais corpos
em meio ao caos urbano
quanto mais ao sul se vai
mais tenso o fio
e o som da saudade reverbera
ecoa
debaixo da terra
toco meu fio com a ponta
dos dedos na esperança que
tu sintas como abalos sísmicos
meu coração batendo em direção
ao teu
debaixo da terra o fio é por vezes
nó
e do nó vibração
turbação que descompassa
o ritmo da metrópole
o emaranhado de fios
por vezes agitados
se cruzam
debaixo da terra
foi em um desses entreatos
da rotina
que nos amarramos
um no outro
só toma cuidado
(mind the gap)
porque distância de mais
corrompe
rompe
esse nosso laço
Para Ricardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pobre do Poeta...